História do Antigo Império Árabe Islamita

 




História do Império Árabe Islamita:   

Nas escolas brasileiras quase não é ensinado para os alunos a história daquilo que foi o Grande Império Árabe Islamita, que existiu no Oriente Médio, na Ásia, e no norte da África. Quando muito, os professores dão apenas um breve e curto resumo, muito mal dado! Quem sabe seja porque o Brasil é o maior país católico do mundo, e a Religião Islâmica tenha sido a maior rival da Igreja Católica Romana. Assim, vamos dar aqui um melhor resumo sobre a história do Império Árabe, desde quando o Império Árabe foi formado, pelo Profeta Maomé, em 622 depois de Cristo, na Arábia Saudita, quando ele já estava com cerca de 40 anos de idade.



Maomé nasceu em Meca, na Arábia Saudita, em abril de 571, e faleceu em Medina, em junho de 632. Seu verdadeiro nome era Hohammed Ibne Abedal Motalibe Haxime. Ele foi um grande líder religioso, e era chamado de Muhammad pelos seus seguidores, que o consideravam um profeta. Ainda criança, com 6 anos de idade, perdeu seus pais, e foi criado pelo seu tio, Abu Talib. Abu Talib era o chefe da Família Banu Haxim (do Clã dos Haxemitas), parentes de Maomé, ou Hachemitas. 

Mais tarde, Maomé tornou-se mercador e, aos 25 anos, casou-se com Khadija, uma viúva comerciante, que era 15 anos mais velha do que ele. Eles tiveram vários filhos, sendo Fátima a sua filha mais conhecida. Kadija era uma mulher rica, e usou toda a sua fortuna para sustentar o seu marido Maomé e para financiar a fé islâmica monoteísta, que ele havia criado. 



Kadija foi a primeira mulher muçulmana da história. Em 619 ela adoeceu e morreu. Os muçulmanos consideram o ano de 620 como o “Ano da Tristesa”, pois foi quando Maomé ficou muito triste com a morte da sua esposa Kadija.

Meca era uma cidade controlada pela Tribo dos Coraixitas, que adoravam vários deuses, e faziam os seus cultos na Caaba, (“Cubo”), um templo sagrado e frequentado pelos beduínos. Os coraixitas diziam que a Caaba era um templo sagrado, que foi construído pelo Profeta Abraão.

Maomé também era um pastor de ovelhas e, durante o seu trabalho, costumava ir rezar e meditar na Montanha Jabal Al Nour, situada perto de Meca.


Foi numa dessas meditações, feita numa das cavernas daquela montanha, chamada Caverna de Hira, que Maomé teve uma visão do Anjo Gabriel, que lhe disse que ele era um dos últimos profetas escolhidos por Deus, e pediu para ele aprender a ler sobre religião. O Anjo Gabriel também lhe falou que Deus iria mandar várias mensagens e versos sagrados. Mais tarde, essas mensagens e versos sagrados foram reunidos no Alcorão, (ou Corão), o livro sagrado da religião islâmica. 

Durante 13 anos, enquanto ainda morava em Meca, Maomé passou a pregar uma nova religião monoteísta, onde existia apenas um Deus, chamado Alá, mas, foi mal interpretado pelos moradores de Meca, que estavam acostumados a adorar vários deuses. Maomé foi considerado uma espécie de “subversivo religioso”, e passou a ser perseguido. Assim, ele foi obrigado a fugir, junto com a sua família, para a cidade de Yatreb, que depois virou Medina (a cidade do profeta).



Esta fuga, que aconteceu em 16 de julho de 622, é conhecida como “Hégira”, e marca o começo da Era Muçulmana. Ele continuou pregando os versos sagrados por cerca de 23 anos. Seu nome mais usado foi Muhammad Abdallah, que significa “louvável servo de Deus”.

Aos poucos, Muhammad (Maomé) foi se transformando, de pregador carismático, em um grande líder político e militar, tendo reunido um grande número de seguidores. A nova religião que Maomé criou foi chamada de Islam, (ou Islã), e os seus seguidores foram chamados de islamitas, ou muçulmanos. 

Também foi preciso criar uma força armada para defender Maomé, uma vez que os fanáticos de Meca continuavam lhe perseguindo. Mais tarde, esta força armada virou o exército da cidade de Yatreb, (Medina), e se envolveu em diversas lutas armadas com as tropas dos coraixitas, da cidade de Meca.



A Batalha de Badr, que aconteceu em 13 de março de 624, foi o primeiro grande confronto entre os muçulmanos, seguidores de Maomé, contra os coraixitas, da cidade de Meca. Os seguidores do Islã derrotaram os coraixitas nos arredores da cidade de Medina (Yatreb). Depois desta batalha, outras tribos árabes ficaram impressionadas com Maomé e começaram a se converter ao Islã. A segunda batalha entre os habitantes de Meca e os seguidores de Maomé aconteceu em Março de 625, e se chamou Batalha do Monte Uude. Nesta batalha não houve vencedores declarados.


A terceira grande batalha aconteceu em 627 entre as forças de Maomé e as Forças Reunidas da Arábia, onde as forças reunidas não conseguiram derrotar Maomé. Esta batalha foi o cerco da cidade de Yatrebe (Medina) onde os seguidores de Maomé, (que eram cerca de 3.000 muçulmanos), cavaram um grande fosso em volta da cidade de Yatreb, se entrincheiraram e se recusaram a sair em campo aberto. Por isso, a batalha ganhou o nome de Batalha da Trincheira. As Forças Reunidas da Arábia eram formadas por cerca de 10.000 homens e, depois de discutirem com Maomé, foram convencidas a abandonar o cerco da cidade de Yatreb.

Em 630 as forças de Maomé, que agora já eram cerca de 10.000 seguidores, cercaram a cidade de Meca, que se rendeu. Maomé entrou em Meca, mandou destruir todas as imagens pagãs da cidade, e a cidade foi islamizada e dedicada ao culto do deus Alá.




Maomé deixou um governador da sua confiança tomando conta de Meca e retornou para Medina, onde veio a falecer, em 08 de junho de 632, a data da morte do profeta. Antes da sua morte, Maomé declarou Meca como a capital do mundo islâmico, e procurou unificar todas as tribos da Arábia, usando a fé monoteísta da religião do Islã.

As principais informações sobre a vida do profeta Maomé estão no livro sagrado do Alcorão, na parte chamada de Sira do Escritor Ibne Ixaque, que conta a “Vida do Mensageiro de Deus”. Maomé também não queria que a sua imagem fosse divulgada, pois achava que as imagens não devem ser objeto de culto, idolatria, ou de adoração. Por isso, também não vamos colocar neste trabalho algumas das várias imagens que já foram atribuídas ao profeta. Colocaremos apenas alguns desenhos figurativos e ilustrativos. 

Na Arábia Pré-Islâmica os deuses eram vistos como protetores das tribos, e os seus espíritos eram associados a árvores, nascentes de água, e até pedras. Em Meca, no Santuário da Caaba, existiam cerca de 360 deuses, que eram adorados pelos beduínos daquela região.


Maomé ainda veio a se casar com várias outras mulheres, cerca de 11 a 15 mulheres, a maioria viúvas, e algumas que apareceram por causa da guerra de Yatreb com a cidade de Meca. 

Maomé se casou com Aixa, (Aicha), sua terceira esposa, que lhe foi dada por seu pai, quando ainda era uma criança, por motivos de aliança política. Mas, apesar de muito jovem, Aixa se tornou a esposa favorita de Maomé, depois da morte de Kadija. Alguns historiadores dizem que o seu casamento se consumou quando Aixa tinha cerca de 14 anos de idade. Quando Maomé morreu, em junho de 632, Aixa (Aicha) ainda tinha cerca de 18 anos, e viveu mais 40 anos, até a sua morte em Medina, em julho de 678.

Depois da morte de Maomé, em 632, a direção do Império Árabe passou para o Califado Ortodoxo Sunita de Abacar, seu companheiro de batalhas, do Clã Banu Adir. Entretanto, Abacar faleceu dois anos depois, sendo sucedido por Omar, do mesmo Clã Banu Adir. Porém, Omar foi assassinado em 644, sendo sucedido por Otomão, que teve o apoio de Aixa, a viúva de Maomé. Mas, Otomão também foi assassinado, em 656, sendo substituído por Ali Talibe, primo e genro de Maomé, do Clã dos Haxemitas, da mesma família do profeta.



O primo de Maomé, Ali Talibe, foi o quarto califa do Império Árabe, e último califa do chamado “Islã Ortodoxo”. Ali também foi genro de Maomé, por ter se casado com Fátima, a filha de Maomé. 

Ali Talibe garantiu a fuga de Maomé de Meca em 622, (ano da Hégira), e depois garantiu a sua vitória, contra aquela cidade, no cerco do ano 630. Quando o profeta estava no norte da Arábia, Maomé nomeou Ali Talibe como seu representante (Califa) na cidade de Yatreb. A cidade de Yatreb passou a ser conhecida, mais tarde, como Medina, (Cidade do Profeta). 

Agora, vou tentar explicar aqui a diferença entre xiitas e sunitas: os xiitas defendem que somente os descendentes do profeta Maomé, a partir do seu primo  e genro Ali Bin Abu Talib, podem assumir o comando dos muçulmanos. Já os sunitas defendem que qualquer pessoa, que seja um muçulmano virtuoso, pode suceder o profeta Maomé.


Os sunitas apoiaram a eleição de Abu Bakr (Abacar), companheiro de batalhas, e homem de confiança de Maomé, para ser o califa e líder religioso. Nos dias de hoje, por exemplo, o Irã é considerado um país xiita, e a Arabia Saudita é considerada um país sunita. Os sunitas são considerados muçulmanos ortodoxos e correspondem a cerca de 85% de todos os muçulmanos.

Depois que se tornou Califa do Islã, em 656, Ali Talib enfrentou uma guerra civil pelo poder no Império Árabe (Império do Islã), entre 3 facções diferentes: os Omíadas, que apoiavam o governador da Síria, Moawia Sufiane, os Xiitas que apoiavam o próprio Ali Talib, e aqueles que apoiavam o governador do Egito, Anre Ibne Aras. Depois de 3 anos de disputas, a guerra civil acabou com o assassinato de Ali, e com o fim do Califado Ortodoxo do Islã. A facção vencedora foram os Omíadas, que deram início à Dinastia Omíada, no ano 661.


Dinastias dos Omíadas e dos Abássidas:

   

Após a morte de Ali Talib, assume o poder a dinastia dos Omíadas, sob o comando do Califa Moawia Sufiane I, do Clã dos Coraixitas (ou Família dos Coraichitas). A Dinastia Omíada ficou no poder do Império Árabe, de 661 até 750, governando por cerca de 90 anos. Atingiu a maior extensão territorial do império, conquistando todo o norte da África, vários territórios na Ásia e, inclusive, a Península Ibérica, na Europa. 



Os Omíadas mudaram a capital do império para Damasco, e reinaram de 661 até 750, na Península Arábica, e de 756 até 1.031, na Península Ibérica, principalmente na cidade de Córdoba, a capital do Emirado Omíada. A Dinastia dos Omíadas ficou cerca de 90 anos no poder na Península Arábica, e cerca de 275 anos na Península Ibérica, quando foram derrotados pelos mouros almorávidas islâmicos, do norte da África.

Como o Califa Moawia Sufiane já tinha sido governador da Síria, ele aproveitou para transformar Damasco na nova capital do Império do Islã.

O Califa Sufiane I conquistou diversos territórios do norte da África, e também continuou a expansão do Império Arabe do Islã para os territórios da Ásia. Conquistou as cidades de Bucara e Samarcanda, no Usbequistão. Também conquistou as ilhas de Creta e Rodes, no Mar Mediterrâneo. 

O Califado Árabe era uma teocracia islâmica (governo da religião islâmica), onde o califa exercia o papel de líder espiritual e político do império. Sua autoridade não podia ser questionada, e não havia separação entre religião e governo. O império era considerado uma propriedade privada das velhas famílias árabes. A aristocracia islâmica exercia a sua autoridade sobre os demais muçulmanos recém-convertidos, e também sobre os não árabes, chamados por eles de maulas.

Sufiane faleceu no ano de 680. Em seu lugar assumiu o poder o Califa Adebal Al Maleque Ibne Maruane.


Al Maleke derrotou os xiitas, conquistou o Iraque, e começou uma nova expansão pelo norte da África, em direção do Grande Magrebe (interior da Líbia e da Mauritânia), onde existiam grandes reservas de ouro. O Califa Al Maleke também construiu o Domo da Rocha, em Jerusalém. O domo foi construído sobre a antiga rocha de sacrifícios do Profeta Abraão.

No ano de 711 o Califa Adebal Al Maleke começou a conquista da Península Ibérica, na Europa, pelo Clã dos Coraixitas (ou coraichitas), pertencentes à Dinastia Omíada. 

Tarik Ibn Zyade, um general da Dinastia Omíada, atravessou o Estreito de Gibraltar, que separa a África da Espanha, com um exército composto por cerca de 7.000 homens, a maioria composta por bérberes. Mas também haviam muitos árabes, judeus, e sírios muçulmanos. No idioma árabe o nome Gibraltar significa Jab Al Tarik, ou “rochedo de Tarik”. 

Dois meses depois que invadiu a Península Ibérica, Tarik Ziade enfrentou os visigodos, tribos provenientes da região da Germânia, situada no norte da Europa, e que eram os dominadores da Península Ibérica.


Em 19 de julho de 711, na Batalha de Guadalete, em Jerez de la Frontera, Tarik enfrentou o rei visigodo Rodrigo, de Toledo, e saiu vitorioso. Segundo alguns historiadores Rodrigo, rei dos visigodos, morreu nesta batalha, outros afirmam que ele fugiu para Nazaré, ao norte de Lisboa, onde morreu, três anos depois. 

Os visigodos já estavam na península desde o ano de 416, e estabeleceram sua capital em Toledo, nas margens do Rio Tejo. As próximas cidades a serem conquistadas, pelos Omíadas de Tarik, foram Sevilha e Toledo, em outubro de 711. Este fato também obrigou as cidades de Córdoba e Granada a se entregarem, para não serem destruídas. 


No ano de 714 a tomada de Saragoça marcou o fim da conquista omíada na Península Ibérica. Os antigos reinos dos visigodos sobreviveram apenas em alguns vales bem isolados, no extremo norte da Cordilheira Cantábrica, no noroeste da Península Ibérica como, por exemplo, no pequeno Reino das Astúrias.

Tarique fundou o Emirado de Córdoba, que virou a capital dos Omíadas na região da Al Andalusia, que era como os mouros, do norte da África, chamavam a Península Ibérica.

O General Tarik foi governador das terras conquistadas, mas por pouco tempo. Ele viajou para a cidade de Damasco, na Síria, onde faleceu, no ano de 720. As forças militares omíadas se instalaram tanto no campo quanto nas cidades da Península Ibérica. A islamização da população ibérica acabou suplantando o cristianismo visigodo. Os abássidas fizeram inúmeras tentativas de conquistar o Emirado Omíada da Península Ibérica, mas não conseguiram. A Península Ibérica permaneceu sob o controle das dinastias omíadas locais, até a sua completa rendição aos reis católicos, no final do Século XV.


Os omíadas, que também foram chamados pelos visigodos de sarracenos, tentaram ainda invadir a França, mas foram expulsos por Carlos Martel, prefeito (mordomo) do Castelo de Paris, na famosa Batalha de Poitiers, no ano de 732. A batalha de Poitiers (ou Tours) foi travada em outubro de 732, entre os exércitos de Carlos Martel, do Reino Franco, e as forças omíadas da Al Andalus, lideradas por Abderramão Al Gafequi, da cidade e Emirado de Córdoba, e do Califado Omíada.
Abderramão Al Gafequi, que era avô do futuro Emir Abderramão II, morreu nesta batalha.

Os mouros foram detidos, depois desta batalha, e os francos ainda tentaram dominar o norte da Espanha, sob o comando do rei Carlos Magno. Nestas lutas também morreu o famoso guerreiro Rolando, que lutava com a famosa espada chamada Durendal, na Batalha de Roncesvalles. Mais tarde, Rolando foi lembrado na obra medieval poética chamada “Canção de Rolando”, de autoria desconhecida.


Enquanto isso, lá em Damasco, o Califa Adebal Al Maleque, da Dinastia dos Omíadas, também tentou conquistar a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino, mas não obteve sucesso. Em Constantinopla, os bizantinos tinham grandes muralhas intransponíveis, e usaram uma arma secreta incendiária, chamada “fogo grego”, para reprimir os ataques. Alguns historiadores dizem que o fogo grego era uma espécie de gasolina, nafta, ou algo parecido! Ninguém ainda conhece a sua fórmula.

Um novo califa, do crescente Império Árabe Islamita, da Dinastia Omíada, chamado Hixam Narwan II, (Hixame Ibne Adebal Maleque),  reinou de 724 até o ano de 745, quando uma grande rebelião do Clã dos Abássidas, com tropas provenientes da região do Iraque, derrotou o califa Hixame Narwan II, que foi obrigado a fugir da capital Damasco.



Posteriormente, a Dinastia dos Abássidas mudou a capital do império para a cidade de Bagdá, no Iraque, de onde eles eram provenientes. A nova capital foi construída no ano de 762 pelo Califa Almançor, nas margens do Rio Tigre, e foi um grande centro comercial e cultural.


O possível herdeiro da Dinastia Omíada era Abderramão Moáula Maleque que, naquela ocasião, estava com cerca de 21 anos de idade apenas. Abderramão também fugiu, em direção ao Vale do Rio Eufrates, junto com seu irmão e um escravo liberto, chamado Bedre, porque os abássidas queriam matar os herdeiros omíadas. Ao atravessar o Rio Eufrates, seu irmão foi capturado por uma tropa dos abássidas e morreu degolado. Mas, Abderramão e Bedre conseguiram fugir, e foram se esconder no Egito. Depois de algum tempo, eles decidiram fugir em direção ao oeste, no norte da África. 



A intenção de Abderramão e Bedre era atingir a Mauritânia, terra de origem da mãe de Abderramão, onde eles acreditavam que seriam bem recebidos. Porém, eles só conseguiram chegar até a cidade de Ceuta, no Estreito de Gibraltar, quando o Príncipe Abderramão já estava com cerca de 30 anos. 

O conjunto das populações da Região do Magreb, no norte da África, eram conhecidos como bérberes, ou mouros, e viviam principalmente na região da antiga Mauritânia, onde faziam parte do Clã dos Almorávidas.

No ano de 755, em Ceuta, nas Margens do Mar Mediterrâneo, o Príncipe Abderramão e seu escravo liberto Bedre, avistaram a  região da Al Andaluzia, onde a Dinastia dos Omíadas ainda dominava! Abderramão nasceu na Síria, era cego de um olho e tinha o cabelo ruivo. Quando chegou em Ceuta, já estava com cerca de 30 anos de idade. Ele conseguiu reunir um grupo de simpatizantes, quando revelou sua real identidade, de Príncipe dos Omíadas de Damasco! Abderramão mandou seu amigo Bedre com uma mensagem para entregar aos líderes sírios e omíadas da Península Ibérica.

O Emirado da Al Andalus foi conquistado pelo avô de Abderramão, que se chamava Abderramão I, que morreu na Batalha de Poitiers, contra os Francos, nos Montes Pirineus. Por isso, a sua presença, no norte da África, foi muito bem recebida pelos líderes e comerciantes de Sevilha e demais regiões da Península Ibérica, pois o território estava sendo muito mal administrado pelo Emir Iúçufe Alfire, de Córdoba. Assim, todos se reuniram e requisitaram a sua presença na Europa. Seu amigo Bedre foi mandado de volta, para o norte da África, com uma outra mensagem de boas vindas, e dizendo que Abderramão seria bem recebido. Abderramão então, reuniu um bom número de seguidores e resolveu pegar alguns barcos para atravessar o Estreito de Gibraltar, ou Estreito de Tarik.



Quando Abderramão estava pronto para partir num barco para Málaga, chegou um grupo de bérberes que seguraram o seu barco, dizendo que ele tinha que pagar uma taxa para partir quando, na verdade, ele já havia pago uma taxa anterior. Imediatamente o seu ex-escravo Bedre cortou a mão do bérbere que segurava o barco, e o barco ficou livre, para partir para Málaga.

Quando Abderramão desembarcou em Málaga foi ovacionado por uma multidão de adeptos do “Príncipe Omíada”. Comerciantes e comandantes militares locais vieram lhe prestar as devidas homenagens. Assim, em março de 756 Abderramão, e seu crescente número de seguidores, conseguiram tomar a cidade de Sevilha, sem resistência, e seguiram para Córdoba, a capital do Emirado.

Enquanto isso, o Emir Iúçufe Alfire teve que se ausentar da cidade de Córdoba, para combater uma rebelião em Saragoça. Quando o Emir Alfire voltou para Córdoba, depois de resolver os problemas em Saragoça, já encontrou o exército de Abderramão esperando em frente da cidade de Córdoba, do outro lado do Rio Guadalquivir.

O Emir Iúçufe Alfire tentou negociar, e ofereceu a sua filha em casamento para Abderramão, mais uma boa quantidade de riquezas, mas ele não aceitou, e a luta começou. Abderramão saiu vitorioso do combate, e entrou na cidade de Córdoba triunfante!



Alfire, e o seu general Alçumail, que haviam fugido do combate, com uma boa parte dos seus exércitos, tentou mais uma vez recuperar o controle da cidade de Córdoba. Assim, reuniu um exército com cerca de 20.000 combatentes mercenários, de diferentes partes da Al Andalus, sem o devido treinamento militar. O governador indicado por Abderramão para administrar Sevilha assumiu a liderança dos combates contra Alfire, e conseguiu vencer. Alfire fugiu para Toledo, mas foi morto ao chegar na cidade. Seu general Alçumail foi preso e colocado numa prisão de Córdoba.

Assim, o príncipe omíada Abderramão assumiu o Emirado da Al Andaluz, no ano de 756, governando até 788, (durante 32 anos), quando faleceu, com cerca de 63 anos. O Emir Abderramão ainda construiu a Grande Mesquita de Córdoba, no ano de 785. Seus filhos e parentes, que haviam ficado em Damasco, na Síria, foram chamados para ocupar vários cargos no governo do Emirado da Al-Andalus. 

O filho primogênito de Abderramão assumiu o emirado, depois da sua morte em 788, adotando o nome de Hixame I. O emirado ainda durou cerca de 250 anos! A Dinastia Omíada ainda criou o Califado Islâmico de Córdoba, no ano 920. Um dos descendentes de Abderramão, chamado Abderramão III, se elegeu Califa da Al Andalus.



A presença dos árabes muçulmanos na Península Ibérica trouxe vários avanços nas áreas da arquitetura, medicina, química, matemática, artes, e demais ciências. Os árabes também desenvolveram a agricultura e trouxeram plantas aprimoradas para a península, tais como, o limão, laranja, amêndoa, oliveira, arroz, cana de açúcar, café, pêssego, etc. Os árabes e seus aliados aprimoraram e desenvolveram as cidades de Lisboa, Santarém, Beja, Faro, Córdova, Sevilha, Saragoça, Silves e várias outras. 

O livro do Alcorão, ou Corão, é o livro sagrado onde se encontram os versos que definem a ideologia religiosa básica do islamismo e, segundo eles, onde se encontra a palavra de Deus, ou Alá. O islamismo é uma religião monoteísta, pois cultua apenas um Deus, assim como também acontece com o cristianismo e o judaísmo.



Quanto à Dinastia dos Abássidas, ela começou em 25 de janeiro de 750, quando o guerreiro abássida Abu Alabás Abedalá Açafá venceu a Batalha do Rio Zabe, contra as forças do califa omíada Maruane II. Os abássidas portavam roupas e bandeiras negras! Depois eles marcharam em direção da capital Damasco, onde tomaram o poder e deram início à Dinastia Abássida. Açafá se dizia descendente de um tio do Profeta Maomé. A sede do novo califado foi provisoriamente instalada na cidade de Harã, no mesmo ano de 750, onde Abedalá Açafá se proclamou o novo califa.

Açafá também venceu outra importante batalha, chamada Batalha do Rio Talas, contra as forças da Dinastia Tang, da China, em julho de 751, no atual Quirguistão, que estavam querendo se expandir em direção às terras da Ásia Central. Posteriormente, Açafá mandou construir uma fábrica de papel na cidade de Samarcanda, que foi administrada pelos sobreviventes chineses da Batalha do Rio Talas.


Abedalá Açafá morreu de varíola, no ano de 754, mas, nomeou como seu sucessor o seu irmão Abu Jafar Almançor, que foi o segundo califa da Dinastia Árabe Abássida, e reinou de 754 até o ano de 775.
Os abássidas também criaram o cargo de “Vizir”, uma espécie de primeiro ministro, que ajudava o califa a governar. Os abássidas mudaram a capital de Harã para a cidade planejada de Bagdá, que foi a capital abássida até o ano de 1.064, quando as tropas dos seljúcidas, provenientes do Irã, na antiga Pérsia, tomaram o poder da Dinastia Abássida e conquistaram Bagdá.

Quem planejou a construção da cidade de Bagdá foi o Califa Abu Jafar Almançor que, em 758, contratou engenheiros, arquitetos, artistas e cerca de 100.000 trabalhadores para construir a nova capital nas margens do Rio Tigre. Na língua persa antiga Bagdá significava "Presente de Deus". Porém, o projeto da nova capital previa inicialmente a construção de um anel de muralhas, com cerca de 2 quilômetros de diâmetro, ladeado por um fosso cheio de água. Dentro deste círculo ficava a Grande Mesquita, os edifícios públicos, o Palácio do Portão Dourado (casa do califa) e o Quartel general da Guarda da Cidade. Este círculo central era chamado de "Madinat As Salan", que na lingua árabe quer dizer "cidade da paz".



Fora das muralhas do círculo central existia uma outra grande muralha circular, com o diâmetro de cerca de 19 quilômetros, e que englobava todas as demais residências dos habitantes de Bagdá. Um canal de água, vindo do Rio Tigre, trazia água até os canteiros de obras, para fazer os tijolos e servir para o consumo humano. Muitas pedras de mármore foram usadas para fazer os edifícios e as escadarias. Dentro da cidade de Bagdá existiam muitas praças e jardins, que eram usadas para o lazer da população. As quatro grandes portas de ferro, que davam acesso para a cidade, eram tão pesadas que eram necessários vários homens para poder abri-las e fechá-las!

O Califa Abu Jafar Almançor inalgurou oficialmente a nova capital Bagdá em 30 de julho de 762. Almançor morreu na sua viagem para Meca, no ano de 775, e foi substituído pelo seu filho Almadi, que reinou de 775 até 785, como o terceiro califa dos abássidas.

O Califa Jafar Al Mançor queria manter o império unido sob a dinastia dos abássidas e, por isso, participou de diversas disputas e articulações políticas dentro da corte. Seu filho Almadi também foi Califa de Bagdá, assim como seus netos Muça Alhadi e Harune Harraxide, no perído entre 775 e 809.



Harune Harraxide, neto de Al Mançor, foi um grande califa que reinou de 786 a 809, e ficou conhecido como "Aarão, o Justo". Em seu governo foi construída a biblioteca chamada de "Casa da Sabedoria", em Bagdá. Harume
também foi amigo do famoso funcionário Iáia Ibne Calide, membro da poderosa família persa dos barmécidas, e que também foi indicado como governador e Emir do Afeganistão.

O livro de contos chamado "As mil e uma noites" narra histórias fantásticas sobre a corte do Califa Harune Harraxide e sobre o próprio califa. Harune se tornou uma figura lendária. Ele era filho de Al Khaysuran, uma ex-escrava liberta que veio do Iêmen, e tinha uma forte personalidade. Khaysuran foi raptada por um mercador, e vendida como escrava para o Califa Almadi, que se apaixonou por ela. Além de Harune, ela teve outro filho, chamado Alhadi, que também foi califa, por um curto período, antes de Harune. Khaysuran persuadiu o califa Almadi, filho de Al Mançor, a indicar os seus filhos como os próximos califas, na frente dos filhos dele com suas outras esposas do Harém de Bagdá.



Em 796 Harune mudou a capital do império para a cidade de Haca, no curso do Médio Eufrates, na região da Al Jazira, para ficar mais perto da fronteira do Império Bizantino. Lá ele governou durante 12 anos e recebeu embaixadores de outros reinos, como a embaixada de Carlos Magno, que aparece no quadro ao lado. Sob a tutela dos abássidas Bagdá se transformou num grande centro cultural. Eles criaram a Casa da Sabedoria, a Academia de Ciências e uma grande biblioteca que preservava obras clássicas de diversas civilizações. Bagdá passou a abrigar um grande número de sábios, artistas, historiadores, médicos e comerciantes importantes.

Durante o Século IX, os abássidas criaram uma guarda de mamelucos, leal ao califa, e composta por guerreiros treinados, de várias regiões do Império do Islã, tais como egípcios, berberes, armênios, turcos, eslavos, veregues do norte do Mar Negro, e várias outras etnias. Os mamelucos foram recrutados durante o reinado do Califa Almotácime, (Abu Ixaque Almostácime), por volta do ano 840, para substituir a antiga Guarda do Califa. Isto deu mais estabilidade ao Império, e evitou que ele se desintegrasse. Neste período, também foi criada a Casa da Sabedoria, em Bagdá, onde os estudos científicos, históricos e artísticos tiveram papel de destaque.

 


O Califa, Abu Ixaque Almotácime, filho do califa Harune Harraxide, mudou temporariamente a capital de Bagdá para a cidade de Samarra, em 836, por causa de revoltas e descontentamentos do povo, em Bagdá. Samarra foi construída, nas margens do Rio Tigre, para ser a nova capital do Império do Islã. O Califa Mutavaquil construiu a Grande Mesquita de Samarra, com seu famoso minarete em forma de espiral. Em 861 o Califa Mutavaquil foi assassinado por sua guarda pessoal, composta pelos Gulans, sua guarda pessoal turca! Isto desencadeou o período conhecido como “Anarquia em Samarra”, que durou até o ano de 870. O Califado Abássida Árabe teve uma leve recuperação nas décadas seguintes, mas, a crise provocada pela “Anarquia em Samarra” foi um duro golpe no prestígio do governo central do califado, e abriu caminho para novas ideias separatistas e rebeldes nas províncias do império. Nesta época, começou a aumentar os adeptos de uma antiga religião ariana chamada Zoroastrismo, (ou masdeísmo), que acreditavam na luta do mal contra o bem, e eram originários da antiga Pérsia. Alguns dos seus ensinamentos são encontrados no livro sagrado chamado Avesta, (ou Zend-Avesta).


Os árabes muçulmanos, que conquistaram a antiga Pérsia, perseguiram os adeptos do zoroastrismo, que cultuavam o Deus Aúra-Mazda (Deus do Bem), que lutava contra Arimã (Deus do Mal). Mas, isto causou alguns tumultos e confusão entre os adeptos destas duas religiões, na região da Pérsia. Os ensinamentos do masdeísmo foram escritos pelo Profeta Zoroastro (ou Zaratustra) por volta do ano 600 antes de Cristo. Esta antiga religião, originária da Pérsia, também era conhecida como Zoroastrismo.

Os filhos das famílias persas, que cultuavam o masdeísmo, eram enviados para as madraças (escolas), para estudar, aprender árabe e se converter ao islamismo. Os judeus e adeptos do masdeísmo eram obrigados a pagar um imposto para continuarem com a sua fé. 

Samarra só foi utilizada como capital até 892, quando o Califa Al Mutadide mudou-se novamente com a corte para a cidade de Bagdá. Em Samarra foi criada a ideologia xiita islamita do “Dia do Juízo Final”. As ruínas de Samarra ainda existem no Iraque, e se transformaram numa atração turística, localizada a cerca de 125 quilômetros ao norte da cidade de Bagdá, na Província de Saladino.

Samarra só foi utilizada como capital até 892, quando o Califa Al Mutadide mudou-se novamente com a corte para a cidade de Bagdá. Bagdá prosperou por cerca de 2 séculos, mas, depois entrou em decadência, por causa do crescimento do poder dos mamelucos, um tipo de exército turco mercenário que eles mesmos ajudaram a criar!

Com o passar dos anos, os militares mamelucos foram tomando conta do poder  e da administração do Império do Islã, e as dinastias árabes foram sendo ultrapassadas, restando apenas um relativo papel dos califas na condução da religião e do mundo espiritual no Islã.



No ano de 936 o califa reinante foi perdendo o controle do califado e teve que entregar o poder para Abu Becre, ou Abucabar, um alto oficial administrativo do Califado Abássida. O califa continuou no poder apenas como fachada, mas, quem tomava conta mesmo era Abu Becre, (uma espécie de vizir), que reinou de 936 até 942, quando morreu assassinado! Assim, a administração do grande Império Islâmico Abássida passou a ser controlada pelos administradores públicos, enquanto que o Califa tomava conta principalmente dos negócios relacionados com a religião e com o mundo espiritual do Islã.


Seljuque foi o chefe dos seljúcidas, uma grande tribo turcomana, originária do Uzbequistão. Eles invadiram o leste da antiga Pérsia, onde fica a região do Khorazan, e rumaram para o Iraque. Seljuque se converteu ao islamismo no ano de 985.

O Califado Abássida, de origem árabe, praticamente desapareceu em 1.064, quando as tropas dos turcomanos seljúcidas, provenientes da região de Khorazan, (A Terra do Sol), no leste da antiga Pérsia, tomaram Bagdá, a capital abássida, e implantaram o Império Seljúcida do Islã, sem a supremacia das famílias árabes.

Mas, a supremacia religiosa islâmica dos abássidas ainda continuou, até 1.258, quando os exércitos dos mongóis apareceram e arrasaram a cidade de Bagdá, matando mais de 800.000 pessoas que lá moravam!

Assim, com o fim da Dinastia dos Abássidas, em 1.258, acabou a supremacia árabe sobre o Império do Islã. Mas, depois vieram outros povos, de etnias diferentes, que deram prosseguimento na religião islamita e, ainda hoje, controlam a antiga região geográfica do Império Religioso do Islã, criado pelo Profeta Maomé.



Depois que foi dominados pelos turcomanos seljúcidas, que vieram da região da Pérsia, o grande Império dos Abássidas não acabou totalmente, pois os abássidas ainda permaneceram em Bagdá, atuando como conselheiros religiosos, e responsáveis pela organização e controle da religião do Islã. Sua atuação na condução da religião islâmica só acabou depois da invasão dos mongóis e da tomada do poder pelos turcos otomanos, bem mais tarde, quando eles tomaram a cidade de Constantinopla, em 1.453, e fizeram dela a sua capital.

Os seljúcidas estabeleceram a sua capital na cidade do Cairo, no Egito, que passou a ser o novo centro administrativo, responsável pela condução da política e dos negócios dentro do grande império que foi criado pelos árabes.

Espero que tenham gostado deste artigo sobre o Império Árabe Islamita. Qualquer dúvida que tiverem é só me escrever. Tudo de bom!

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